"Não tenhas nada nas mãos...

No tengas nada en las manos

ni una memoria en el alma.

Que cuando pongan en tus manos el último óbolo,

al abrirlas nada caiga de ellas.

¿Qué trono te quieren dar

que Átropos no te quite?

¿Qué laurel que no se marchite

en los arbitrios de Minos?

¿Qué horas que no te reduzcan

a la sombra que serás

cuando de noche estés

al fin del camino?

Toma las flores, pero suéltalas

apenas miradas.

Siéntate al sol. Abdica

y sé rey de ti mismo.

[Não tenhas nada nas mãos

Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem

Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos

Nada te cairá.

Que trono te querem dar

Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem

Nos arbítrios de Minos?

Que horas que te não tornem

Da estatura da sombra

Que serás quando fores

Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,

Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica

E sê rei de ti próprio.]

Fernando Pessoa